Os dois anos da pandemia do Covid-19 impactaram negativamente a vida de todos. Porém, a parcela feminina da sociedade brasileira parece ter vivido esse período de uma forma ainda mais intensa. Isso é o que aponta uma pesquisa feita pelo Google especialmente para o Dia Internacional da Mulher, celebrado no último dia 8.
Só nos últimos 12 meses, termos como “cansada psicologicamente” e “cansada mentalmente” foram as principais pesquisas da plataforma. Os dados mostram ainda que, desde 2015, o termo “cansada”, especificamente no gênero feminino, é mais procurado do que “cansado” pelos usuários brasileiros. Para complementar, nos últimos 12 meses, o levantamento aponta que a expressão “mãe cansada” também teve um crescimento expressivo no buscador.
Burnout parental: o desafio de ser mãe na pandemia
Os dados mostrados pelo Google se unem a outros estudos já divulgados durante a pandemia, mostrando que as mães brasileiras de crianças e adolescentes fazem parte de um dos grupos mais fragilizados emocionalmente em detrimento das dificuldades enfrentadas no cotidiano.
Aliás, não é a primeira vez que o cansaço materno vira tema de discussão no Brasil. Em 2018, as pesquisadoras Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak realizaram um estudo global sobre um tema que já são pioneiras: o burnout parental.
Embora o termo burnout esteja vinculado ao estresse crônico e duradouro, a síndrome relacionada a aspectos parentais é um fenômeno diferenciado e com diferentes formas de manifestação.
Segundo a pesquisa realizada na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, 1,3% das mães brasileiras já enfrentavam uma situação de esgotamento no período que antecede a pandemia. Diante do cenário do coronavírus, os quadros se agravaram significativamente.
De acordo com uma pesquisa do Instituto FSB, feita a pedido da companhia seguradora SulAmérica e publicada em novembro de 2021, 62% das brasileiras dizem que a saúde emocional piorou nos últimos dois anos de pandemia.
Mulheres estão mais cansadas do que nunca
Embora o trabalho doméstico sempre tenha sido um fator de cansaço e exaustão para a mulher, a pandemia intensificou esse quadro com uma dupla jornada de trabalho mais dura, sem chance para descanso, principalmente para aquelas que foram submetidas ao trabalho home-office.
“Acumulou dentro de casa as funções maternas, as funções do lar, ajudar os filhos nas questões escolares e o trabalho remoto. Além disso, em muitos casos também havia o marido que ficou em casa fazendo o serviço dele remotamente”, aponta Marilene Kehdi, psicóloga especialista em atendimento clínico.
Segundo a especialista, por questões culturais, esse grupo apresenta grande empecilho para pedir ajuda e demonstrar que está esgotado. Consequentemente, toda a sobrecarga cai em seus ombros. Além disso, em algumas situações, a mulher simplesmente não conta com a ajuda do parceiro para dividir as tarefas e responsabilidades familiares.
Vale destacar que isso não acontece apenas com as mães, já que mulheres que não têm filhos também tiveram que enfrentar esse tipo de problema em casa. Conciliar os cuidados constantes com a casa junto com o trabalho ou estudos em casa forma uma rotina desgastante que leva inúmeras mulheres a uma sobrecarga emocional durante a pandemia. Não à toa, os quadros de esgotamento mental e burnout aumentaram nesse período.
Burnout feminino em alta
A síndrome de Burnout, também chamada de esgotamento profissional, é um distúrbio emocional caracterizado pelo estado de estresse extremo e crônico, normalmente fruto de situações de trabalho desgastante. Sintomas como alterações no sono, irritabilidade e desânimo acentuado para realizar tarefas diárias são os mais comuns nesses casos.
Marilene Kehdi afirma que pessoas com altos níveis de estresse, esgotamento físico e mental e que possuem sobrecarga de função também possuem chances de desenvolver a síndrome. Ademais, é importante ressaltar que quadros de burnout podem evoluir para depressão, transtornos de ansiedade e síndrome do pânico.
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